UC Berkeley Press Release

 

Estimulação Magnética Transcraniana: uma nova terapia

 

Scientific american, ano2, no. 17, out. 2003. Resumo:

 

"Em teoria, a Estimulação Magnética Transcraniana poderia ser uma terapia útil para qualquer transtorno cerebral envolvendo uma disfunção comportamental de um circuito neural. Os pesquisadores vêm utilizando a técnica no tratamento de transtornos obsessivo-compulsivos, esquizofrenia, doença de Parkinson, distonia (contrações musculares involuntárias), dores crônicas e epilepsia. Para a maioria dessas disfunções existem atualmente somente alguns estudos não conclusivos ou até contraditórios. Assim, no que se refere à utilização da Estimulação Magnética Transcraniana como terapia para esses casos, não existe consenso.

 

A maior parte dessas dúvidas tem se concentrado no alívio da depressão. Na metade da década de 90, eu estava entre os primeiros pesquisadores (ao lado de vários grupos europeus) que investigavam a aplicação das sessões de Estimulação Magnética transcraniana diárias para tratar a depressão. Pensávamos que talvez se pudesse obter com a Estimulação Magnética Transcraniana o que a Eletroconvulsoterapia faz pelas pessoas deprimidas e ainda ter a vantagem de evitar convulsões. Meus estudos estavam relacionados ao estimulo do córtex pré-frontal, porque essa região aparece anormal em muitas imagens internas do cérebro de pacientes deprimidos e também porque essa área está relacionada às regiões límbicas profundas envolvidas no controle do humor e das emoções.

 

Testes duplo-cego logo mostraram um efeito antidepressivo pequeno, mas significativo. Alguns pacientes do I NIH que não tinham respondido a todos os outros tratar mentos tinham conseguido sair da depressão e retomar para casa. Desde então, foram publicados mais de 20 testes de Estimulação Magnética Transcraniana pré-frontal aleatórios e controlados, como tratamento da depressão. A maioria desses estudos mostra efeitos antidepressivos significativamente maiores que com a aplicação de eletrodos sham, uma conclusão que foi posteriormente confirmada através de uma meta-análise de resultados. Ainda que o consenso atual sustente que a Estimulação Magnética Transcraniana oferece um efeito antidepressivo estatisticamente significativo, a controvérsia vai além, discutindo se os efeitos são suficientemente grandes para serem considerados clinicamente úteis.

 

Como ainda não existe uma empresa comercial para promover a Estimulação Magnética Transcraniana como terapia antidepressiva e também porque esses estudos têm sido relativamente limitados (com uma variação muito grande tanto nos métodos da Estimulação Magnética Transcranianar quanto na seleção dos pacientes), o uso da Estimulação Magnética Transcranianar como tratamento para a depressão ainda é considerado experimental pela Food and Drug Administration (FDA). A técnica, no entanto, foi aprovada no Canadá, Israel, Austrália, Brasil e Esoanha , onde já está disponível. Está sendo planejado um amplo teste patrocinado por uma empresa que pretende conseguir a certificação da FDA. Mesmo que seja aprovada, as pesquisas ainda deverão continuar para se conseguir um maior refinamento dessa abordagem.

 

É bom frisar que a Estimulação Magnética Transcraniana repetitiva pode causar convulsões epiléticas em pessoas saudáveis, dependendo da intensidade, freqüência, duração e intervalo dos estímulos magnéticos. Na história da utilização da técnica Estimulação Magnética Transcranianar foram relatadas oito convulsões não-intencionais, mas desde a publicação de normas de segurança, há alguns anos, nenhum outro caso foi registrado. Alguns cientistas estão investigando as potenciais aplicações positivas desse resultado. Harold A. Sackeim e Sarah H. Lisanby da Columbia University mostraram que uma versão superdimensionada da Estimulação Magnética Transcraniana que eles chamam de magnetic seizure therapy – MST (Magneto Convulso Terapia- MCT) pode produzir convulsões benéficas em pacientes deprimidos (que são anestesiados previamente).

 

Ao contrário da ECT a Estimulação Magnética Transcraniana permite que os usuários se concentrem no local onde a convulsão é disparada. Um melhor controle da convulsão pode impedir que ela se espalhe para regiões do cérebro responsáveis, por exemplo, pela perda da memória, como ocorre com a Eletroconvulsoterapia. Dados preliminares indicam que a Estimulação Magnética Transcraniana tem menos efeitos colaterais cognitivos do que as técnicas tradicionais da Eletroconvulsoterapia: Será preciso pesquisar mais para saber se a MST realmente funciona e , para que tipo de transtorno poderia ser benéfica.

 

A tecnologia da Estimulação Magnética Transcraniana também está evoluindo. Nosso grupo na MUSC- Escola Medica da Universidade de Carolina do Sul, por exemplo, desenvolveu recentemente uma máquina de Estimulação Magnética Transcraniana portátil -um avanço que pode algum dia vir a se transformar nos capacetes contra a fadiga em vôos. Um desenvolvimento bastante extenso também deve ocorrer em novos projetos e protótipos de bobinas que estimulem partes mais profundas do cérebro, permitam ajustes mais finos ou combinem essas duas alternativas. A maior parte de nossas ações e pensamentos decorre de uma ativação coordenada de várias partes do cérebro e não da atividade de uma única região cerebral.

 

Se fosse possível colocar várias bobinas Estimulação Magnética Transcraniana distribuídas em diferentes regiões chave do cérebro e dispará-Ias de forma coordenada, estariam abertas novas oportunidades para a Estimulação Magnética Transcraniana como ferramenta e tratamento para as neurociências.

 

Depois de mais de uma década de testes, a Estimulação Magnética Transcraniana já foi aprovada no Canadá, Israel, Austrália, Brasil e Espanha no alívio de transtornos cerebrais. No EUA continua aguardando a aprovação do FDA, no entanto, os pesquisadores demonstram elevado interesse pela técnica e continuam acreditando na capacidade intrinseca de usar campos magnéticos com segurança para ativar e desativar certas regiões do cérebro. Se a Estimulação Magnética Transcraniana vingar, ela poderá, até certo ponto, confirmar a sabedoria popular de que os humanos utilizam somente uma pequena parte do cérebro."